Rosatom estuda cooperação com companhias brasileiras para apresentar proposta ao EPC de construção da terceira unidade nuclear.

Por Rodrigo Polito — Do Rio

A gigante russa da indústria nuclear Rosatom estuda costurar parceria com empresas brasileiras e, eventualmente, com outros grupos internacionais para disputar o contrato de EPC (sigla em inglês para o pacote de engenharia, compras e construção) para a conclusão da usina nuclear de Angra 3. A companhia também acompanha de perto o plano do governo brasileiro de expansão da geração de energia nuclear no país no futuro.

O modelo de conclusão de Angra 3 por meio da contratação de um “epecista” estava contido em relatório do comitê interministerial sobre a usina, aprovado em junho pelo Conselho do Programa de Parceria de Investimentos (PPI). O próximo passo agora envolve a contratação pelo BNDES de consultorias especializadas para fazer a “due diligence” (auditoria técnica e contábil) do projeto e de!nir o montante de recursos necessários para concluir o empreendimento. Estima-se que o valor necessário para terminar Angra 3 seja da ordem de R$ 15 bilhões.

“Estou muito impressionado de como o ministro de Minas e Energia [Bento Albuquerque], a Eletronuclear e a Eletrobras estão avançando para concluir esse projeto. Apesar da covid, muitas coisas foram feitas”, a!rmou ao Valor o presidente da Rosatom para a América Latina, Ivan Dybov. “O próximo passo será o BNDES escolher a companhia para fazer a due dilligence. Vamos tomar nossa decisão [de disputar o contrato de EPC] quando tivermos essa informação e tivermos um entendimento completo sobre o projeto”.

Dybov, porém, está certo de que, se o grupo decidir disputar o contrato, isso envolverá uma parceria com empresas locais. “Cada fornecedor tem que pensar sobre todos os riscos e analisar as informações para tomar a decisão. Mas estamos certos de que é impossível fazer esse projeto sem grande cooperação com companhias brasileiras”, afirmou. A companhia russa já possui um acordo assinado com a Camargo Corrêa Infra (CCI), empresa controlada da Mover Participações (ex- Camargo Corrêa S.A.).

O grupo também não descarta a formação de um consórcio com outras companhias internacionais. Um exemplo desse modelo é a sociedade estabelecida com a francesa Framatome e com a americana GE para construção de uma usina nuclear na Bulgária.

O executivo também elogiou a forma como o governo incluiu a energia nuclear na versão preliminar do Plano Nacional de Energia (PNE) 2050, que está em consulta pública pelo Ministério de Minas e Energia. Em vez de determinar quantas novas usinas nucleares deverão ser construídas nos próximos 30 anos, o documento estabeleceu apenas o total da capacidade instalada prevista para aumentar no período, algo entre 8 e 10 gigawatts (GW), o equivalente a quatro ou cinco vezes o parque gerador nuclear atual do país. Segundo ele, nesse montante, é possível construir grandes usinas nucleares e plantas modulares de menor porte, os “small modular reactors” (SMR).

Na área de medicina nuclear, a companhia também fornece isótopos para o Brasil. Segundo Dybov, os problemas logísticos para a entrega de isótopos ocorridos no início da pandemia e das medidas de distanciamento social já foram solucionados. Neste ano, ele assumiu a vice-presidência para medicina nuclear da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan).

Grupo russo quer parceiro na disputa por obra de Angra 3 (Valor Econômico)
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